O Itapecuru devolve um pedaço da história
Uma descoberta impressionante reacendeu a memória da antiga navegação pelo Rio Itapecuru. Um pescador codoense, conhecido como ‘Nego Pescador’, encontrou uma enorme âncora nas águas do rio em Codó, despertando o interesse de historiadores e curiosos sobre a possível origem da peça.
O comunicador Alberto Barros, que recebeu as imagens e as informações em primeira mão, destacou a importância do achado: “Isso aí é a história da navegação do rio Itapecuru. Até o presidente da República já passou aqui por Codó em embarcações. Essa âncora foi encontrada no rio Itapecuru por um pescador, amigo do Amarildo. Aí é um histórico da época em que o rio era navegável, viu?”, disse Alberto Barros.
A era dourada da navegação no Itapecuru
No início do século XX, o Rio Itapecuru era a principal rota de transporte entre São Luís, Codó e Caxias. O percurso, feito em navios a vapor, durava até oito dias, ligando as cidades maranhenses em um tempo em que o rio era o coração econômico e social do Estado.
Relatos de 1904, como o do advogado Dr. Araújo Costa, descrevem viagens que partiam do Cais da Sagração, em São Luís, passando por Rosário, Cantanhede, Coroatá e Codó, até chegar a Caxias. Em 1906, o então presidente do Brasil, Afonso Pena, também percorreu o Itapecuru em direção a Caxias. Diante das dificuldades da travessia, teria determinado a construção da Estrada de Ferro São Luís–Caxias, encerrando gradualmente o ciclo da navegação fluvial como principal meio de transporte do Maranhão.
Com o tempo, o rio perdeu seu volume e importância econômica, mas nunca deixou de guardar, em suas águas e margens, vestígios de um passado grandioso.
Uma peça que pode revelar um naufrágio histórico
Um historiador codoense, disse em um vídeo que circula pelos grupos de whatsapp da cidade, ao visitar o local onde a âncora foi deixada, levantou uma hipótese surpreendente: a peça pode estar ligada ao naufrágio da embarcação de Ana Jansen, uma das mulheres mais influentes da história do Maranhão, ocorrido na Barra da Gamileira, em território codoense.
“Pois é, eu tô aqui na porta do meu amigo Nego Pescador. Ele encontrou no Rio Itapecuru essa âncora, e eu, como historiador, posso dizer que ela pertenceu ao naufrágio de uma líder política e comerciante importante lá em São Luís do Maranhão, a chamada Ana Jansen. […] Isso aqui, seguramente, eu tenho 100% de certeza que eles vão procurar essa peça. É um naufrágio. Já veio embarcação de São Luís atrás. Ela pode valer muita coisa. Isso aqui tem uma história, eu tô te falando como historiador que sou”, afirmou o pesquisador.
Segundo ele, quando era menino, chegou a visitar o local do naufrágio, conhecido como Barra da Gamileira, onde parte da embarcação ainda era visível. Hoje, com o recuo do rio, o cenário mudou — mas a descoberta reacende a lembrança de um episódio que há décadas faz parte da tradição oral de Codó.
Tesouro histórico e cultural
A âncora, agora sob os cuidados do pescador que a retirou do rio, é vista como um achado de grande valor histórico, que pode interessar tanto ao Instituto Histórico e Geográfico de Codó quanto ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
Além de seu potencial valor material, o artefato simboliza um elo entre o presente e o passado, revelando fragmentos da vida econômica, política e social que pulsava nas águas do Itapecuru.
Como disse Alberto Barros: “Essa história precisa ser contada. O Itapecuru foi o caminho da nossa história, e essa âncora é uma prova viva disso.”
Nota histórica: quem foi Ana Jansen?
Ana Joaquina Jansen Pereira (1793–1869) foi uma das figuras femininas mais marcantes da história do Maranhão. Rica proprietária de terras, comerciante e influente na política da província, Ana Jansen é lembrada por sua forte personalidade e pelo poder que exerceu em uma época dominada por homens.
Conhecida como a “Rainha do Maranhão”, foi protagonista de episódios que misturaram política, economia e lendas populares. Uma das mais famosas conta que, após sua morte, seu espírito passou a percorrer as ruas de São Luís em uma carruagem fantasmagórica — símbolo da mulher poderosa e temida que foi em vida.
A possível ligação de sua embarcação com o naufrágio na Barra da Gamileira, em Codó, torna o achado da âncora ainda mais fascinante. Se confirmada a origem, a peça seria um raro vestígio físico de um capítulo lendário da história maranhense.
Matéria: Blog do Alberto Barros