Sociedade médica lança nova diretriz para diagnóstico e tratamento de autismo no Brasil

A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) divulgou um novo documento com recomendações atualizadas para o diagnóstico e cuidado de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A última versão datava de 2021, e o avanço das pesquisas nos últimos anos exigiu uma revisão detalhada sobre o que a ciência realmente comprova sobre o autismo até o momento.

Diagnóstico precoce e observação clínica
O texto reforça que não existe exame laboratorial capaz de detectar o autismo. O diagnóstico é clínico, baseado na observação do comportamento e no desenvolvimento infantil. Por isso, quanto antes a avaliação for feita, melhores as chances de intervenção.

A SBNI recomenda que o rastreamento comece a partir dos 14 meses. Para isso, utiliza-se o auxílio de ferramentas como o M-CHAT, um questionário que identifica sinais precoces do transtorno. As perguntas avaliam aspectos do comportamento social, da comunicação e da resposta a estímulos. No Brasil, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso obrigatório desse teste em unidades de saúde, para crianças de 16 a 30 meses.

Entre os questionamentos estão: “Se você apontar para algum objeto no quarto, o seu filho olha para esse objeto?”; “O seu filho aponta com o dedo para pedir algo ou para conseguir ajuda?”; “O seu filho fica muito incomodado com barulhos do dia a dia?”. Além disso, o documento sugere exames genéticos complementares, exames laboratoriais e de imagem (que não são essenciais, mas podem auxiliar em diagnósticos diferenciais).

Os medicamentos são indicados apenas para condições associadas, como ansiedade, agressividade, hiperatividade, insônia e sintomas obsessivo-compulsivos. Entre os fármacos reconhecidos pela Anvisa estão a risperidona (a partir dos 5 anos) e o aripiprazol (a partir dos 6).

Diagnóstico multidisciplinar e atenção aos contextos sociais
O novo protocolo destaca a importância de uma avaliação completa e integrada, que envolva médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Condições como vulnerabilidade social e uso excessivo de telas podem mimetizar sintomas do autismo e levar a diagnósticos equivocados. O diagnóstico é definido conforme os critérios do DSM-5, com classificação em três níveis de suporte (1, 2 e 3), que variam de acordo com o grau de independência da criança.

O que não tem comprovação científica

A SBNI também alerta para práticas que não possuem respaldo científico, como dietas restritivas (sem glúten ou caseína), suplementações (como ômega-3 e vitaminas), terapias com células-tronco, ozonioterapia, uso de canabidiol (CBD) e psicanálise voltada ao TEA. Esses métodos carecem de evidência e não devem substituir tratamentos comprovados.

Um passo importante para padronizar o cuidado no Brasil
Com 33 páginas, o novo documento representa um marco para os profissionais da saúde e famílias de pessoas com autismo. Além de padronizar condutas clínicas, ele reforça a importância de relatórios éticos e detalhados, que garantam o acesso a terapias e direitos legais. A atualização das diretrizes mostra o compromisso da SBNI com uma prática médica baseada em evidências, empatia e inclusão, ajudando a construir um cenário mais justo e informado para o diagnóstico e o cuidado de crianças e adolescentes com TEA.

Terra.com

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